sexta-feira, 8 de março de 2013

Como tudo deve ser...




Chorão,

Para mim é muito difícil escrever sobre sua morte. Eu não sou crítica, ou talvez seja, pois adoro palpitar sobre arte (e já fiz alguns textos aqui em homenagens póstumas, como a Amy e Michael Jackson), mas acredito que quando se analisa uma obra, deve-se manter certo distanciamento.

Isso eu não posso fazer, porque eu sempre admirei muito você e te considerei um dos meus grandes ídolos e suas músicas foram a trilha sonora da minha adolescência e juventude.

Eu cantei em coro com meus colegas “Não é sério” durante os intervalos na escola, e essa foi uma das primeiras vezes que refleti que “é o sistema que tem que mudar”. Eu gritei alto com os meus amigos “Eu odeio gente chique, eu não uso sapato”, e até hoje tenho um pouco de aversão a salto alto.

Eu fiquei horas no telefone ligando para a rádio para ganhar ingressos para ir pela primeira vez a um show seu. Eu apanhei – e bati – como nunca em minha vida, no bate cabeça na gravação de um dos seus DVDs.

Eu sai da escola, fui para uma universidade com uma realidade totalmente diferente da minha, e sua música me ajudou a ter orgulho das minhas raízes, afinal, “eu nasci pobre, mas não nasci otária...”.

Eu percebi que mesmo um cara bruto e com cara de mau pode ter grande sabedoria para falar de amor. E aprendi que “o amor é a paz de Deus em sua casa” e que ele constrói “pontes indestrutíveis”.

Eu considerei que você foi um artista injustiçado, pois acabou sendo rotulado como “o cantor skatista”, que faz músicas de maloqueiro, com letras superficiais, o que não é verdade. Sua obra, reflexo de você mesmo, era “não tão complicada demais, mas nem tão simples assim...”.

Eu acreditei que seu sucesso deriva justamente de conseguir atingir o coração da juventude com temas existencialistas que tocavam fundo nos seus anseios, medos, sonhos, e também dialogavam diretamente com a realidade na qual os jovens viviam.

Na música brasileira há espaço para você e Marcelo Camelo.

E agora você deixa uma lacuna no Rock brasileiro. Depois de Renato Russo e Cazuza, ninguém mais tinha personificado o estilo ‘sexo, drogas e rock’n roll’ na sua própria história de forma tão evidente.

O rock por aqui vai ficar mais careta. Sua morte foi uma triste surpresa, mas penso que não poderia ser de outra forma, “os bons morrem jovens” para se tornarem mitos, “como tudo deve ser...”. 

p.s: foto registrada no último show dele que eu fui, em 2011, onde consegui abraçá-lo. 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Só enquanto eu respirar...

Essa semana eu tive duas experiências artísticas muito interessantes. Na terça-feira, fui em um bate-papo sobre cultura livre com Fernando e Gustavo Anitelli, d’O teatro Mágico no espaço jesuíta Anchietanum. O grupo ganhou destaque ao mesclar música, poesia, circo, teatro em espetáculos emocionantes, que atingem sobretudo os jovens.

No dia seguinte, na quarta-feira, tive uma surpresa boa, ganhei ingresso para assistir ao musical “Bibi, histórias e canções”, uma merecida homenagem para Bibi Ferreira, artista maravilhosa, que eu pouco conhecia, pois infelizmente minha geração não acompanhou tanto o seu trabalho. Entre o público, no teatro Frei Caneca, predominavam pessoas idosas.

Essa sequência de eventos me fez pensar muito sobre a cultura brasileira, sobre como possuímos artistas incríveis ao longo da história, nem sempre valorizada. Nosso país precisa dar mais destaque para essas pessoas e mais pessoas precisam conhecê-las, ter acesso a espaços culturais, vivenciar momentos como os que eu vivi.

Ver Bibi Ferreira, aos 90 anos (e sob um salto muito alto), cantando lindamente foi uma grande lição de vida. É preciso ter muita paixão pelo que se faz para ter disposição e continuar se apresentando nessa idade. É preciso amar muito a vida para não se entregar.

Me emocionei muito com suas histórias, com sua alegria, com seu humor, até mesmo ao lidar com o tema da morte, inevitável para todos nós com o passar dos anos. Talvez a tal sabedoria seja esta: conviver com a ideia constante de que a vida acaba.

A vida acaba, mas a poesia prevalece. O Teatro Mágico e tantos outros artistas são o presente e o futuro da cultura brasileira. Artistas talentosos, mas também comprometidos com o bem da sociedade. É disso que o Brasil precisava, nos palcos em que Bibi pisou nos tempos da ditadura. É disso que o Brasil sempre vai precisar.

domingo, 1 de abril de 2012

O que você anda lendo?


Esses dias me surpreendi com minha amiga jornalista Bianca Hayashi que postou no Facebook que este ano tem a meta de ler 52 livros. Eu respondi que 52 livros em um ano é para os fortes!

Desde então tenho pensado muito a respeito. Conversando com outras amigas do curso de letras (de LETRAS, veja bem!) percebi que isso não está acontecendo só comigo. Elas também estão lendo cada vez menos.

Segunda a 3ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada na quarta-feira passada, a média de leitura do brasileiro é de 4 livros por ano, sendo apenas 2,1 livros até o fim. Eu não costumo contar, mas acho que não passo dos 10 livros.

Assim que eu me formei, eu pensei “enfim, liberdade!”, porque depois de seis anos cheia de leituras obrigatórias, eu poderia ler os livros que sempre quis e nunca tinha tempo...voltar aos clássicos: Shakespeare, Cervantes, Dante...conhecer a literatura russa, viajar no realismo fantástico latino-americano, desvendar a prosa de Pessoa, enfim, uma lista de desejos enorme e praticamente infinita...

E eis que, às vezes, eu fico a semana inteira sem pegar meu livro na cabeceira da cama. Falta de tempo? Sono? Tempo demais na academia? No Facebook?

O fato é que o livro deixou de fazer parte do habitus (conceito do sociólogo Pierre Bourdieu) cultural da maioria das pessoas, substituído por TV, internet etc. A vida da gente é cada vez mais corrida e o tempo da leitura é lento, há um descompasso talvez irreversível.

Se eu, jornalista formada em letras, não escapo disso, penso nas crianças e adolescentes, as futuras gerações. Será que elas ainda vão apreciar os grandes livros. Será que Proust e Joyce vão ser esquecidos?

Não sou do tipo saudosista, rato-de-sebo, mas também não acredito que o tablet seja a solução; o suporte é o de menos. Meu medo é que o prazer da leitura seja definitivamente esquecido. O mundo ficaria um pouco mais sem graça...

p.s: a imagem é uma homenagem a Ziraldo, autor do meu livro preferido na infância: "Uma professora muito maluquinha".

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O que eu vi da vida

O que dizer no dia do meu aniversário de 25 anos?



Que hoje me sinto muito feliz por tudo que sou e por tudo que conquistei, pela minha consciência da vida, que a cada dia se constrói, pelas experiências vividas e a sabedoria adquirida, e por ver que tudo o que aconteceu até hoje fez sentido e por sentir que estou vivendo exatamente o que devia viver.

O filósofo francês Sartre, ao defender o existencialismo, disse: "O homem não é nada mais do que aquilo que faz a si próprio". Eu concordo; eu sou o resultado de minhas escolhas. Mesmo quando a gente age sem pensar, os resultados sempre dependem de nós mesmos, e por isso não adianta viver se lamentando, é sempre necessário agir e tomar uma atitude.

Também posso dizer que me sinto honrada por estar rodeada de pessoas do bem, cheias de energia positiva, que me querem bem, e que eu também amo muito!!!! Pessoas que me orgulho por conhecer e por fazerem parte da minha vida!!!

Só tenho a agradecer a Deus por cada dia, cada experiência, cada momento. Não tenho motivos para me arrepender de nada do que fiz ou deixei de fazer. Sempre fui verdadeira em tudo, sempre me dediquei ao máximo para fazer as coisas nas quais eu acredito darem certo.

Não lamento o que deixei para trás, assim como também não tenho medo do que está por vir. Não quero nunca me acomodar com o mais fácil, ou me conformar com o que o destino me prepara.Como o grande Guimarães Rosa disse, o que a vida quer da gente é coragem, e é no dia-a-dia que a gente tem que provar a nossa coragem a ela para seguir nosso caminho!!!

Sobre o que espero do futuro? Como Toquinho canta em Aquarela, "nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá", o importante é seguir em frente, perseguindo a felicidade, lutando pelo que se acredita, pois para mim é dessa forma que alcançamos a vida plena, e ficamos mais perto de Deus, e vivemos nosso céu, ainda na terra.

domingo, 29 de janeiro de 2012

até a última ponta


Assisti enfim o documentário sobre a descriminalização da maconha, Quebrando tabu, produção de Fernando Menocci, Silvana Tinelli, Luciano Huck e direção de Fernando Grostein Andrade, com argumento e participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Achei interessante assistir o filme agora, momento em que a discussão sobre a ocupação da Cracolândia de São Paulo domina os noticiários e redes sociais, pois nele fica evidente que o problema das drogas não é uma questão de polícia.

O longa é bem montado, de forma a ser atrativo para diferentes públicos, desde os ativistas que lutam para a legalização da maconha, até o jovem ‘moderninho’, que nunca experimentou, mas adora fazer apologia.

Após ver todo o documentário, é evidente que o problema é muito mais social. O tráfico é terrível para a América Latina, sobretudo no México e na Colômbia, onde mata e aterroriza milhares de pessoas todos os anos. Além disso, os punidos e presos são, em sua maioria, os pobres e negros, seja no Brasil ou nos EUA.

Acho importante a dedicação de FHC em discutir a questão, aproveitando de sua influência política e concordo com ele na defesa da descriminalização para usuários, a exemplo de Portugal, onde, aparentemente, a experiência tem dado certo.

Mas por aqui, enquanto não houver políticas reais de inclusão social e trabalho para os jovens, o tráfico vai continuar graduando bandidos. E a falta de perspectivas e de visão de futuro, contribuindo para o contato dos jovens com as drogas e a possível dependência.

Quando o tema é drogas, é importante, sim, cortar as folhas. Mas, o ideal é ainda arrancar as raízes.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Recomeçando...


Faz muito que não escrevo no blog porque, infelizmente, a vida corrida, às vezes, sufoca nossos pensamentos e ideias, e o tempo nunca parece ser suficiente para escrever algo que mereça ser lido, enfim, crises pessoais.

Mas quero registrar aqui que estou iniciando um novo desafio em minha vida. Na verdade ele começou em novembro do ano passado, quando entrei para a equipe do Blog Mural, da Folha de S. Paulo, onde escrevo sobre as notícias das periferias dessa minha cidade, que parece ter tantas dentro de uma só.

Está sendo uma experiência muito rica para mim, estou reaprendendo a olhar a região onde moro com mais carinho e respeito, e também pensando em tentar ajudar no que for possível para vê-la melhorar. E foi uma oportunidade de eu voltar a fazer jornalismo, algo, que no fundo, eu nunca abandonei.

E com essa retomada, por coincidência, destino, ou por conta das minhas próprias escolhas, agora, vou voltar a trabalhar com comunicação, fazendo parte da equipe de assessoria de imprensa da Obra Social Dom Bosco de Itaquera, que tem um trabalho que eu sempre admirei, e inclusive foi um dos temas do meu trabalho de conclusão do curso de jornalismo. E também é muito perto da minha casa!

Espero que eu possa adquirir experiência e aprender o máximo possível nesse novo recomeço. Às vezes acho que as coisas na vida são frutos do acaso, as vezes parece que tudo acontece exatamente como devia, é difícil entender...mas como dizia a grande Clarice Lispector "Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento"!

domingo, 6 de novembro de 2011

Ocupar ou não ocupar, eis a questão



Em um momento em que as manifestações estão surgindo em toda a parte, desde o mundo árabe até nos Estados Unidos, aqui no Brasil as coisas não poderiam ser diferente. O destaque da vez é a ocupação da reitoria na USP; o motivo, a prisão de estudantes da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) que portavam maconha.

Eu estudei na FFLCH por seis anos (e ainda sou uma aluna matriculada) e durante todo esse tempo presenciei diversas situações e movimentos de contestação, em meio a greves e outras crises da universidade.

Eu nunca fui uma estudante engajada, morava muito longe, estudava no Mackenzie ao mesmo tempo, depois comecei a trabalhar, enfim, não tinha pique nem paciência para participar de assembleias nem manifestações.

Para a maioria dos alunos do noturno, essas coisas eram para os filhinhos de papai pseudointelectuais (e maconheiros) que tinham o dia todo livre para ficar na USP. Um estereótipo, um preconceito, sim. Mas que muitas vezes se confirmava, como agora na ocupação.

Atualmente os movimentos sociais e manifestos estão cada vez mais desmobilizados e existe uma cultura de que nada disso funciona, que não vale a pena lutar. E a sociedade e a mídia ajudam a propagar essa opinião, contribuindo para a manutenção do status quo. Parece que os resultados nunca são alcançados.

Mas acho que diante dessa ideia, os próprios movimentos deveriam pensar em novas formas de atuação, justamente para não confirmar essa visão. Os estudantes que ocupam a reitoria ao invés de garantirem melhores condições para o debate, estão fazendo com que todos fiquem contra eles, que aparentemente parecem rebeldes sem causa.

Posso dizer com propriedade que temos motivos para reivindicar. De todas as faculdades da Universidade, a FFLCH é a que menos tem investimento, nossas condições de estudo são precárias.

Eu sou contra a polícia militar no campus porque acredito que por si só ela não garante a segurança no campus. A universidade precisa de mais iluminação e mais ônibus circulares, para que possamos nos movimentar mais rapidamente entre os prédios. Além disso, a presença da PM envolve interesses políticos, intimida manifestações e ameaça um retorno às ações do período da ditadura.

Acredito que precisamos de uma polícia que se preocupe mais com a prevenção de assaltos e estupros e não apenas queira se mostrar eficiente e se exibir por prender usuários de drogas. Mas acho que a ocupação da reitoria não está funcionando e novas formas de contestação devem ser pensadas. Esse é o grande desafio.

foto: Jornal do Campus, de 2009.