domingo, 5 de abril de 2009

"É você que financia essa m..."


"Um soco no estômago". Foi o que um dos telespectadores afirmaram ao sair da sessão de Garapa, no sábado, durante a programação do 14° Festival Internacional de Documentários É tudo verdade. Ele descreveu o que eu também senti, mas estava tão sem reação que não consegui traduzir.

O longa de José Padilha tematiza a fome por meio do cotidiano de três famílias do Ceará, todas com muitas crianças, que ao invés do leite, se "alimentam" da garapa, a mistura de água com açucar. O filme, é sufocante, exaustivo, se arrasta, assim como os dias daquelas famílias sem esperança, "áspero, intratável", como o cacto do sertão de Manuel Bandeira.

Heitor Augusto do Cineclick afirmou: "Padilha morde: o preto e branco emociona e o que há na tela causa até vergonha individual de comer; Padilha assopra: a fome é quase uma entidade abstrata, cujos culpados não estão no plano político, econômico ou coletivo".

Após a sessão, lembrei-me da frase do grande Capitão Nascimento do mesmo Padilha: "É você que financia essa merda!". Que parcela de culpa, cada um de nós temos diante da fome dos "outros" e da nossa passividade, da recusa e até das críticas que fazemos ao governo? Diante de cerca de 1400 crianças morrendo de fome em todo o mundo, somente durante aqueles 110 minutos em que estivemos no cinema?

Qualquer discussão a respeito de exploração do tema fome, Nordeste, ou das questões éticas entre entrevistados e documentaristas, não mudam o fato de que ainda hoje, pessoas passam fome no Brasil. E o que fazemos?

Crítica Heitor Augusto: http://cinema.cineclick.uol.com.br/noticias/index.php?id_noticia=22780

2 comentários:

Rose Soler disse...

É, vejo que realmente perdi um excelente documentário... Murphy..humpf..

Mas, sobre seu questionamento, fica até difícil responsabilizar algo ou alguém pela questão da fome.

Já li em vários textos que a quantidade de comida desperdiçada diariamente por feiras livres e restaurantes alimentaria praticamente toda a população carente. Assim como já li também que vários estabelecimentos querem doar o que não é consumido para entidades carentes, mas se deparam com entraves burocráticos.

A fome, em si é uma questão difícil de se resolver, pq normalmente ataca-se o problema onde culturalmente acredita-se que ele acontece: nos sertões. Mas as autoridades, e às vezes até nós mesmos, esquecemos que a fome está ali, praticamente ao lado.

Acho que, se tivesse visto esse doc, teria vergonha de comer algo por um bom tempo...

Clarisse disse...

Oi Livia! Achei bárbara a sua reflexão sobre o filme. Só me deixou com mais vontade de assisti-lo!

Parabéns pelo blog. É a primeira vez que entro e fiquei encantada com seu texto jornalístico... Confesso que só li esse post também.. rsrs

Sou nova nesse mundo bloguístico! Montei um sobre a minha viagem. Dá uma passada lá depois...

Beijos e parabéns de novo!