segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Era uma vez...


Faz tempo queria escrever alguma coisa sobre a novela das 18h da Globo, Cordel Encantado, só que o tempo passou e ela acabou na sexta passada (e eu não assisti o último capítulo porque fui para o Rock in Rio, mas isso é outro assunto). Mas hoje li a crítica da Keila Jimenez na Folha de São Paulo, e senti vontade de comentar o que ela disse e o que achei do folhetim.

Quando vi os primeiros anúncios da novela senti um pouco de repulsa porque o nome lembrava o nome da banda Cordel do Fogo Encantado, daí achei meio estranha a referência, mas assim que comecei a acompanhar a história me apaixonei.

O enredo era realmente encantado, uma história sem tempo certo nem lugar, como em um típico conto de fadas. Como Jimenez diz em sua crítica, a novela tinha “Imagens de um mundo perdido no tempo, captadas por tecnologia de ponta”, as imagens eram belíssimas, dignas de cinema, além da presença de um elenco dos mais elevados que a Globo possui.

O que mais me impressionou nesta história ora tradicional, ora moderna, ora crítica, ora irônica foi a capacidade retomar o gosto do público por narrativas simples, ingênuas, como as mais antigas e belas literaturas, e tudo isso com o sotaque gostoso do Nordeste.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O que fica



Amy Winehouse está morta. E para mim, como para muitos jornalistas e críticos que li neste fim de semana, tratava-se de uma morte anunciada. A vida desregrada, o excesso de drogas e álcool estava a deteriorando aos poucos.

Sua morte trágica, aos 27 anos, a transforma em um mito, como muitos outros. Mas antes disso, sua vida e obra também traziam certa nostalgia do passado, como bem apontou Camilo Rocha em seu blog "Amy Winehouse parecia não pertencer aos dias de hoje”.

A partir dos anos 90, e sobretudo nos 2000, um pop star se envolver em escândalos, e publicamente assumir ser usuário de drogas não era mais comum, como nos anos 60 e 70. Amy trouxe este comportamento de novo à moda, desagradando, mas, também por isso, gerando uma legião de fãs, para os quais “rehab” era um hino de libertação de um mundo tão politicamente correto.

Para além da atitude rock in roll, para mim o grande legado de Amy Winehouse foi atualizar e modernizar a tradicional música “negra”, atraindo os ouvidos dos jovens para o jazz e o clássico R&B. Ela foi cedo demais, mas acredito que deixou um legado. Abriu caminhos para Adele, por exemplo. A esperança está viva.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Com muito amor...


Ontem fui assistir ao jogo amistoso entre Brasil e Romênia, o jogo de despedida de Ronaldo da seleção brasileira.

Foi muito emocionante para mim porque foi a primeira vez que assisti um jogo do Brasil no estádio e porque sempre fui fã de Ronaldo, mais ainda depois que ele jogou no Corinthians e entrou para o nosso bando de loucos...

Mas, além disso, ontem descobri que gosto de futebol mais do imaginava. Como é gostoso ver de perto os craques fazendo boas jogadas, se agitar a cada lance, criticar os erros, xingar o juiz, acompanhar a bola no caminho até o gol.

Descobri também que admiro e me identifico com todas aquelas pessoas que, assim como eu, compraram um ingresso consideravelmente injusto (exploram da nossa vontade de ver o Brasil em campo), que enfrentaram a chuva e o vento para chegar ao Pacaembu, que vestiram a camisa verde e amarela mesmo sobre os grossos casacos e capas de chuva.

Não gosto quando afirmam que gostar de futebol é supérfluo ou coisa de gente ignorante. Não concordo com aqueles que dizem que brasileiro devia se preocupar com política da mesma forma com que se preocupam com o esporte. Não se pode comparar estas atividades.

A política é um relacionamento impessoal. A gente devia acompanhar, cobrar, exigir nossos direitos, cumprir deveres, participar. A maioria não faz isso, mas é uma questão muito complexa, envolve boa educação e boa vontade da parte de quem está no poder.

Já o futebol. Ah, futebol é amor. Não se trata de pedir nada em troca, trata-se de doação. As vezes é uma paixão irracional, mas é um pouco como amor de mãe, é uma entrega sem pretensões. A gente gosta de vitória, mas no fundo só quer torcer. Só quer continuar ser brasileiro, com muito orgulho, com muito amor...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Considerações sobre Paris




1. apesar de não ser uma pessoa tão viajada posso afirmar, com certeza, que não existe outra cidade igual. Ela tem mesmo aquele encanto, glamour, requinte que nenhuma outra do mundo tem.
2. as pessoas são mesmo um pouco blasées, e isso é natural, elas são assim, tipicamente francesas, com o ar esnobe e elegante.
3. não me arrisquei a comer coisas estranhas, mas é evidente que o tratamento à culinária é especial. Eles valorizam muito o momento das refeições e um restaurante bem simples de lá seria um chique daqui...
4. mesmo assim, o fast food está em todo o canto e se come de tudo: comida chinesa, japonesa, italiana, indiana etc.
5. o metrô é muito mais sujo que em SP, e além dos vendedores de bilhetes, não vi funcionários nas estações, como aqui. Seguranças, por exemplo, não tem. Os mendigos (sim, existem mendigos em Paris) dormem nas estações na madrugada, fugindo do frio. Não há quem os tire.
6. Apesar disso, mesmo na hora do Rush, o metrô nunca ficava cheio como o daqui (o mais cheio do mundo, conforme as pesquisas). Em Paris existem 14 linhas de metrô, enquanto aqui temos quatro e meia.
7. Impossível ir a qualquer lugar fora do trecho Eiffel-Louvre sem o mapa do metrô.
8. O taxi sai mais barato que em SP, sem contar, é claro, a variação do euro em relação ao real.
9. Caminhar a pé por Paris vale muito a pena. Você se depara com lugares inesperados e incríveis, por acaso.
10. Enquanto em SP a cultura das bicicletas é ainda papo de gente alternativa e “écolo”, como diriam os franceses, em Paris as pessoas comuns vão ao trabalho, ao mercado, em todo lugar.
11. O sistema ‘Vélib’ (bicicletas disponíveis para locação) é muito utilizado. Em algumas estações, era difícil encontrar em alguns horários alguma bicicleta disponível.
12. O frio faz as pessoas se vestirem muito bem. E como disse, todo mundo parece um pouco mais elegante por lá.
13. Paris é cheia de turistas japoneses e cariocas.
14. Os homens são mais diretos quando se interessam por alguém, ou consideram que as brasileiras são mais fáceis, e por isso tentam investir. Digo isto porque, uma vez, no metrô, um homem (que fazia doutorado e devia ter uns 30 e poucos anos) depois de puxar conversa comigo, já quis descer na mesma estação que eu e me levar em casa. Foi difícil explicar, em francês, que eu não queria que ele me acompanhasse. Além disso, no aeroporto, um funcionário me ajudou no check-in e já me convidou para tomar um café e sair, quando eu voltasse de Portugal...Em SP, é difícil a gente ser abordada em situações cotidianas como essas...
15. Pode ser só mito, mas na casa da família onde me hospedei, não via as pessoas irem tomar banho...
16. As lojas de lembrancinhas são todas de estrangeiros: indianos, latinos, conheci até um cara de Israel que tinha uma esposa brasileira. E os produtos dessas lojas são todos MADE IN CHINA.
17. Os imigrantes africanos são os camelôs (a palavra é francesa, mas lá não tem esse nosso sentido). Vendem as miniaturas da torre Eiffel, sobretudo.
18. Em cada passeio você descobre a rua ou estátua de algum escritor. A literatura realmente faz parte da cidade. Os escritores são patrimônio do país.
19. Paris aspira história e cultura.
20. Os cartazes das peças de teatro nas ruas são equivalentes aos de cinema. Estão em toda a parte. A agenda teatral é exibida no jornal da TV, assim como a previsão do tempo.
21. Os franceses adoram previsão do tempo.
22. Paris é romântica. Viajar a dois para lá deve ser maravilhoso. Mas, mesmo sozinha, é impossível não se apaixonar por ela.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Serei eu (ainda) jornalista?


Neste dia do jornalista que já está acabando, me pergunto: ainda sou jornalista? Por diversos caminhos da vida eu não estou trabalhando na área; isso significa que meu diploma (que já não é obrigatório) ficou, de vez, na gaveta?

Muitos acreditam que o jornalismo é uma missão, um sacerdócio. Concordo que ele é uma atividade que está além das relações trabalhistas, e é também por isso que, neste aspecto, é tão desvalorizada; as condições de exercício da profissão são muitas vezes injustas e precárias, a classe não é unida, entre outros problemas.

Sob o pretexto de afirmar que basta ter talento para escrever bem e correr atrás da notícia, custe o que custar, a profissão em si não é socialmente institucionalizada, o curso acadêmico é desmerecido e, no meio de tudo isto, nós, estudantes, recém formados etc. nos doamos muito por muito pouco.

Imagino como seria hoje minha vida se eu tivesse conseguido aquele estágio na Globo,no "Profissão Repórter", ou tivesse passado na entrevista para o Focas do Estadão, dentre tantas outras oportunidades. Talvez estivesse realizada, mas pudesse ser menos crítica em relação à mídia e comunicação, como sou hoje.

Às vezes penso em como seria se tivesse insistido em procurar algum trabalho minimamente digno e seguro, com o qual eu pudesse investir em meus projetos pessoais, como estou fazendo agora, longe do jornalismo. Não sei dizer se seria melhor ou pior. Não me arrependo e acredito em um certo destino, de acordo com as condições que a vida me deu.

Ainda assim, para mim o jornalismo é uma profissão maravilhosa e muito honrada e eu tenho muito orgulho em dizer que sou uma jornalista. Não praticante, mas que ainda assim faz uma oração, quase em segredo, sempre que pode.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Gabriel O Pensador -Nunca Serão (Dirigido por José Padilha e Oscar Rodri...



Em tempos de guerra no Rio, vale a pena escutar a música de Gabriel, o pensador, amigo e parceiro de José Padilha.

domingo, 17 de outubro de 2010

Um outro cinema possível



“Um filme que precisa ser visto e revisto”, afirmou Heitor Augusto do Cineclick. Realmente é muito difícil falar alguma coisa sobre Tropa de Elite 2 logo após sair da sala do cinema.

O fato é que esta sequência é um fenômeno sob diferentes aspectos.
O primeiro deles é que Tropa 2 tornou-se um marco por ser a maior bilheteria de estreia do cinema nacional desde a Retomada e a quinta maior entre filmes nacionais e estrangeiros.

O esforço da equipe do filme para que desta vez não houvesse vazamento antes do lançamento colaborou muito. Se a própria pirataria provocou o alvoroço e o interesse pelo primeiro longa, o sucesso do segundo se vale pela intensa e crítica referência a uma realidade muito atual, muito polêmica.

José Padilha acertou ao idealizar a continuação da história do, agora, coronel Nascimento. Sua história tem muito potencial, é muito representativa. Arrisco dizer que é possível uma terceira sequência, que pode finalizar sua saga. Mas acredito que com o segundo o diretor já tenha alcançado a ideia principal de seu argumento, sua crítica ao sistema.

O público em geral quando vai ao cinema parece procurar em Tropa 2 as cenas, os jargões e até mesmo a violência do 1. Mas diante da tela o que ele encontra como resposta não é aquilo que se assiste com distanciamento, como nos filmes de ação de Hollywood (embora esta estrutura tenha sido utilizada e bem explorada). Mostra-se para a sociedade a própria sociedade.

Sistema carcerário, direitos humanos, corrupção, discurso político, discurso midiático, violência policial, desigualdade social, poder, todos estes e mais alguns são os principais temas desenvolvidos. Parece muita coisa para apenas 118 minutos, mas essa capacidade do cinema, para mim, o faz surpreendente.

A gente sai da sala desiludido com o sistema, pensando que não tem jeito, que política é uma m* mesmo, que é impossível mudar. Mas também pensa em como o filme é corajoso por ser tão contemporâneo, mostrando que por meio da arte é ainda possível revelar às pessoas o que às vezes é difícil de enxergar.

Desde que comecei a me interessar mais por cinema (quando realizei uma reportagem sobre cinema paraguaio), uma frase ficou na minha cabeça: “Se um país não tem cinema, ele não existe”. É triste ver o Brasil que nós temos em Tropa 2 , mas ainda assim é melhor do que não vê-lo.

Admiro muito o trabalho e o pensamento de Padilha (já escrevi sobre seu documentário Garapa aqui no Blog). Para mim, tirar o bom cinema brasileiro do círculo alternativo e do público Cult e restrito já é um grande mérito de toda a sua equipe, mas suscitar debates sérios em grande parte da população, fazer a arte intervir no social, é motivo para se manter otimista e ainda acreditar que é possível ver outro Brasil, dentro e fora da tela.